De que sonho renascemos?

Elisa Schuler
3 min readNov 16, 2020

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Segundo Kandinsky, toda linha começa num ponto. E o ponto é denso, complexo, imenso, irradia, expande. É como se pedisse para crescer, para continuar linha, rizoma, sem fim, sem ter onde chegar.

A chegada do meu filho…

Muitos questionamentos…

Como fornecer um ambiente propício ao desenvolvimento do meu filho?

Quais são as ferramentas e habilidades mais importantes nesse processo?

Qual o papel da escola?

Quais são os modelos de educação mais inovadores?

Será que a escola é dispensável?

E as mães e os pais nessa história?

Foram tantas as perguntas que fiz. Algumas receberam respostas. Li.

Pesquisei. Conversei.

Compartilhei minhas angústias em círculos. Pequenos outros nem tanto.

E tudo foi ficando mais claro…

E o desafio foi aumentando. Falso paradoxo?

E do compartilhamento de idéias, comecei a entender que o trabalho da educação para as crianças tem que começar em nós adultos.

E um sonho me acordou de madrugada. Algo precisava ser feito por essas crianças que estavam chegando e as muitas de diversas idades que já estão aqui. No sonho, um lugar. E não era um espaço fora, era um espaço dentro. Dentro de mim.

E foi desse ponto que nasceu um sonho.

Segundo Eliana Pommé, não se leva ninguém ao lugar que nunca foi.

“Durante a gravidez, a natureza oferece à mulher a chance de revisitar o bebê que ela foi, e não é sem razão: não levamos ninguém aonde nunca fomos.”

Sendo assim, como podemos querer passar algo para alguém se não vivenciarmos verdadeiramente em nossos corações?

E o que é esse algo? E como identificá-lo? Como separar o que não lhe diz respeito? Expectativas, projeções, medos, inseguranças.

Quais são os caminhos possíveis para se fazer isso? Quais as ferramentas? Essas perguntas se intensificam principalmente quando se torna mãe ou pai.

Meu filho, hoje com 6 anos, me trouxe de volta à criança que eu fui.

Uma linda oportunidade que eu recebi de reviver essa criança.

Ter filhos é apenas uma das formas. Sim, profunda, visceral, intensa. Mas não é o único caminho profundo, visceral e intenso . Aliás, repito, é uma oportunidade, que pode ser aproveitada ou não.

Não quero dizer que aqueles que têm filhos não são os únicos seres iluminados, melhores do que os que não tem. Existem vários outros caminhos, diferentes. Onde há luz, onde há amor.

Todos somos filhos. Todos já estivemos conectados visceralmente a alguém, já experimentamos a sensação de pertencimento e amor. E a vida nos coloca a revisitar esse momento para curar a nós mesmos.

Talvez seja buscando retomar essa conexão, esse cordão umbilical, que muitas vezes acabamos nos desconectando de nós mesmos. Buscando atender às expectativas daqueles que nos geraram, dos que nos cuidaram, daqueles que nos relacionamos, pessoal e no trabalho, dos filhos, … Tamanha a visceralidade. É instinto de sobrevivência? É isso que nos move? Se não fizermos isso, deixaremos de existir, ou seja morremos. Ao menos, deixaremos de existir para aqueles que nos circundam porque deixaremos de atender suas expectativas. Sim, deixaremos de existir para os outros para existirmos por nós mesmos.

Empatia é um caminho ou o caminho para sentir essa conexão umbilical novamente? Qual o mecanismo que estaria por trás da empatia? Resgatar a sensação de compartilhar os sentimentos com a mãe intra útero?

Sim, as perguntas só aumentam. Mas sinto que uma confiança interna é construída ao mesmo tempo.

Somente assim conseguiremos nos ver. Através do outro em união e amor.

Não estamos sozinhos! Estenda a mão e será acolhido.

Sim, o ponto segue o fluxo e cresce seguindo a luz. É rizoma. É humano.

E você, de qual sonho você renasceu?

Aqui apenas algumas reflexões colhidas entre 2016 e 2019, durante o processo de criação do Gestar.se como acolhida da criança que vive em nós adultos.

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Elisa Schuler

Advogada, pesquisadora e consultora. Meu chamado na escrita é da poesia que mora nas crianças de todas as idades.